Após um período de vazio criativo recesso, o blog
volta abordando uma questão um tanto conflituosa: mulheres são sempre culpadas,
vadias, putas (na concepção das próprias mulheres).
Em menos de uma semana, três episódios colocam em
xeque a decência da mulher. No primeiro, acusam um ser humano de ser péssima
mãe por levar seu filho, ainda bebê, a uma partida de futebol que acabou (neste
caso, começou) em conflito com a polícia. O pai da criança (provavelmente, o
homem que estava segurando uma bolsa infantil ao lado da mãe) não foi citado
pelos críticos (mulheres) de plantão.
No segundo caso, uma mulher é espancada durante
horas em seu próprio apartamento por um crush e as pessoas, apesar de não
isentarem o maldito por seu ato, culpam a “cinquentona” por ter tentado se relacionar
com um “garotão” e ainda aberto as portas de sua casa no primeiro encontro.
Para fechar com chave de “o que eu to fazendo
nesse mundo”, Marina Ruy Barbosa vira alvo de críticas de fãs (nem sei se isso
é fã mesmo) e até de amigas por um boato de ser o pivô de uma separação. Ainda
que ela seja mesmo a tal amante da história (nada provado até o momento), ninguém
apontou o dedo para o homem adúltero.
Os três casos chocam por terem mulheres apontadas como culpadas,
mas principalmente por elas serem julgadas por outras (pasmem!) MULHERES. Mas o caso que quero
comentar aqui é o segundo, da mulher espancada durante quatro horas dentro do
próprio apartamento. Conversando com uma pessoa próxima a mim sobre isso fiquei
surpresa por ela (que já foi vítima de violência doméstica) culpar a paisagista
agredida. “Ele não podia ter feito isso, mas ela também foi muito errada em
levar pra casa um homem que nunca tinha visto pessoalmente”, ela me disse. Oi?!
O animal a espancou sem motivo algum. Faria isso no primeiro encontro ou no
décimo. Ele faria isso na casa dela ou num motel. Na verdade, se tivesse sido
num motel, ela estaria morta, porque não teria recebido socorro a tempo, e ele
teria fugido de carro, pela porta da frente. Talvez até fosse identificado pela
polícia, mas prestaria depoimento e, por não ter sido preso em flagrante, sairia
da delegacia lindamente, para responder em liberdade.
O fato do casal ser adulto e estar flertando há algum tempo deixava
claro para ambos que rolaria sexo no primeiro encontro, certo? Certo. E isso não é um problema. Se não na
casa dela, na casa dele, num motel, no banco da praça (não importa o local), ele
a teria espancado na primeira oportunidade. Então, não. A mulher não errou em levar
o cara para dentro de casa. Talvez ali tenha sido sim o local mais seguro (até
então) para esse primeiro encontro físico deles: um terreno bem conhecido por
ela, cercado por vizinhos e seguranças do edifício.
Trago este assunto aqui porque eu mesma já levei vários crushes
para meu apê. Sim, aqui me sinto mais segura. É um terreno que eu conheço
perfeitamente e imagino que num caso horrendo como esse da paisagista, os
vizinhos me salvariam. Claro que tomo precauções, como avisar a amigas quem vou
encontrar, aonde vamos, mostrar foto da criatura, nome e sobrenome, placa de
carro se houver, hora que estou saindo...Mas nada disso adianta se o cara
quiser me espancar ou mesmo me matar. Ele vai fazer na primeira oportunidade e
o máximo que vai acontecer é ele ser preso. E vamos combinar que entre adultos
o sexo é mais que natural em qualquer etapa da paquera né?! Quem é a ingênua
que ainda acredita que é preciso esperar 30 dias para ter uma noite de prazer,
ou o décimo encontro para dar umazinha porque, assim, será respeitada, ganhar
título de namorada e, talvez, até de esposa? E quantas de nós, mulheres, ainda
querem esses títulos?
Somos independentes. Estudamos, trabalhamos. Pagamos nossas contas.
Sustentamos nossas vidas (muitas vezes sozinhas). Podemos fazer o que der na
telha. Não precisamos mais de homem nem para abrir pote de azeitonas, nem para ter filhos. Podemos transar com quem e quantos quisermos. Podemos dormir com um e
acordar com outro se essa for a nossa vontade. E nem por isso devemos receber o
selo de putas, vadias, merecedoras de passadas de mãos e tapas na cara. Não
devemos ser criticadas desta forma por ninguém, muito menos por outras mulheres.
Culpado é o homem que abusa da sua força física. Culpado é o homem que abusa da
histórica cultura de poder sobre todas as coisas. Culpado é o homem que espanca.
Culpado é o homem que não sabe ouvir um Não, que não sabe ser preterido. Culpado é o homem que ao ver uma mulher com minissaia na rua não consegue agir diferente de um cão quando sente o cheiro do cio.
Sim, já levei homens para minha casa e confesso: nunca tive medo
de ser agredida nestas situações. Mas agora, vendo isso, o rosto dela deformado
após ser brutalmente violentada por quatro horas...agora eu estou começando a
repensar até a vocação (que nunca tive) para ser beata. Ela só passou por isso
porque deu crédito a um ser humano. Eu nunca passei por isso, mas podia ter
passado, porque também já acreditei no ser humano. Mas hoje, hoje prefiro
minhas cachorras.
------
* Texto inspirado após leitura da coluna de Mariliz Pereira, na Folha de São Paulo
------
* Texto inspirado após leitura da coluna de Mariliz Pereira, na Folha de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário